quarta-feira, 3 de março de 2010

Lembranças

Memórias. Quem nunca passou um dia inteiro relembrando a vida? Hoje foi um desses dias para mim. Embora tenha dado muitas aulas, o pouco tempo que tive livre foi reservado para lembranças.



Esse lugar é mágico - meu lugarzinho secreto. Se algum dia eu quisesse sumir, seria uma boa opção me procurar aí. Cada vez que olho essa foto, chego a sentir o cheiro do dia em que estive nesse lugar. Não foi nenhum acontecimento que me fez ter esse local como especial, e nem é uma paisagem que chama a atenção, mas a primeira vez que pude sentar embaixo dessa cruz e ficar olhando sozinha para o Sol se pondo, senti uma liberdade como nunca havia sentido antes. É um lugar que, cada vez que piso, me traz a sensação de ser a primeira vez que estou lá: a vontade de fechar os olhos e abrir os braços é grande. Depois, deitar no chão, ficar olhando as estrelas e perceber que esse momento é só meu, sem problemas, sem ninguém para atrapalhar. É meu e de mais ninguém.
Esse local é só uma das minhas grandes lembranças. Me peguei relembrando dos shows, de como eu ficava empolgada para assistir as bandas que eu curtia quando eu tinha 17-18 anos. Nem dormia direito. Fazia de tudo pra chegar na grade e sempre conseguia. Ganhava uma série de coisas dos caras das bandas: palhetas, baquetas, toalhas (tá, meio nojento receber uma toalha suada). Lembro-me que, certa vez, o Steve Vai pediu para o roadie dele me entregar uma rosa com as cordas da guitarra dele. E eu só com 16 anos, achei o máximo! Hoje, vendo essas coisas esquecidas em uma gaveta em minha casa, percebo que o tempo passou e aqueles pequenos tesouros pra mim da época se transformaram em lembranças empoeiradas.
Outro dia um grande amigo me levou para rever a casa em que morei até meus 9 anos de idade. Eu sonho com aquela casa, aquela rua. Sonho com minha infância. Fiquei anos sem passar por ali novamente, até porque meus pais não tem boas lembranças dos anos em que moramos naquela casa, mas foi ali que aconteceram alguns eventos marcantes de minha vida. Ali cresci. Ali aprendi a andar de skate. Só andava com os meninos. Eu e meu irmão éramos amigos de um menino que dizia que queria voar. No dia que ele saiu da nossa casa e foi atravessar a rua batendo os braços como se fossem asas, um carro o atropelou. Nada grave aconteceu, mas a piada ficou eternizada: "pelo menos você conseguiu dar uma voadinha!". Lembro-me da minha avó chegando toda quarta-feira. Chego a sentir o cheiro dela agora. Tudo foi tão importante! Os passeios de bicicleta, as bolinhas de gude, o lango-lango e o bogus, o mega drive, a piscina de plástico que eu invejava do vizinho, as festas do vizinho japonês que eu e meu irmão íamos e passávamos fome porque não tinha garfo, a ninhada da minha Weimaraner, as tentativas de acertar com uma pedra uma casa de marimbondo, as eternas puladas de corda...! Fazem 2 semanas que visitei minha antiga casa. Hoje ela está pintada de uma cor avermelhada, e as casas dos vizinhos mudaram muito também. Meu coração bateu até mais forte ali. Depois disso, não sonhei mais com a casa da Rua Guairapé, 19. Até quando?
Tempos de escola, amigos, descaso com professores (só mais tarde percebi o erro), brigas, risadas, viagens. A primeira vez que me apaixonei, eu tinha somente 12 anos. Não, eu nunca consegui nem pegar na mão do menino que eu gostava. Ele tinha um irmão gêmeo, mas nunca nem olhei pro outro. Lembro-me do dia em que ele me trouxe um convite pra uma danceteria. Ele era 3 anos mais velho que eu, e eu não podia ainda frequentar esses lugares, nem na matinê (medo da mamãe). Eu guardei esse convite por 3 anos. Só joguei fora quando dei meu primeiro beijo, com 15 anos. E o pré-primeiro beijo foi uma das passagens mais legais pra mim. Eu ficava imaginando como seria, se eu beijaria bem. Ficava com vergonha das minhas amigas que já tinham beijado e fingia que também já tinha dado altos beijos. Mal elas sabiam que eu tinha beijado no máximo minha própria mão. Quando beijei, nossa! Meu coração disparou. Eu já me vi de vestido de noiva com o menininho que me beijou. Essa inocência é fantástica. Era.
São muitas lembranças. É engraçado reparar o quanto eu mudei, o quanto tudo isso me fez ser quem eu sou hoje. E hoje estou construindo as lembranças para relembrar amanhã. E com certeza amanhã também serei diferente. Nada melhor que essa constante mutação.

Cheers!


2 comentários:

  1. Tudo a ver comigo esse post também. No comecinho desse ano visitei o prédio que passei minha infância. Eu não olhava praquele prédio há mais de 10 anos. No instante que olhei, reparei que mudaram as cores, que tudo em volta tava diferente, comecei a chorar.
    Eu adoro relembrar meu passado. Tanto que guardo todos meus diários e agendas. Quando a vontade aperta eu leio tudo. Faz a gente lembrar quem somos nós.
    Se um gênio da lâmpada aparecesse e falasse "faça um desejo apenas, qualquer um" eu faria pra voltar no tempo com as memórias de hoje. Seria sensacional.
    Poder aproveitar mais minha família quando era unida. Poder abraçar mais minha avó. Poder não cometer os erros 'acadêmicos' que cometi. Sem contar os relacionamentos. Fazer tudo de novo... Eu adoraria! hahahaha Não que eu me arrependa, acho q tudo que acontece na nossa vida tem um motivo. Cada erro, cada calombo, cada pancada. Tudo que passamos e fizeram conosco serviu pra alguma coisa, e se nunca tivessemos passado por nada disso, seríamos pessoas totalmente vazias...

    Te adoro demais Camis, vc conquistou meu coração! :)

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  2. Demais!! Também tenho várias lembranças da minha infância. Algumas boas, outras nem tanto... e acho que conheço o lugar desta foto aí!!

    Parabéns pelo texto e pelo blog!.

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